Terras Raras: O Poder Geopolítico da China

Terras Raras

No século XXI, a corrida pela supremacia tecnológica e pela liderança na transição energética global é, em grande medida, uma corrida por recursos minerais específicos. Entre os mais cruciais estão os Elementos de Terras Raras (ETRs), um grupo de 17 metais vitais para inúmeras aplicações de alta tecnologia. Neste cenário, o domínio da China na produção de terras raras não é apenas uma questão de mercado, mas um fator geopolítico de peso, com profundas implicações para o futuro da inovação e da sustentabilidade no planeta.

O Que São as Terras Raras e Por Que São Essenciais?

Apesar do nome, os elementos de terras raras não são, na sua maioria, geologicamente “raros” em termos de abundância na crosta terrestre. Alguns são até mais comuns que o cobre ou o chumbo. O desafio reside na sua extração e processamento, pois raramente são encontrados em concentrações economicamente viáveis e, quando ocorrem, estão frequentemente misturados, exigindo processos químicos complexos, dispendiosos e ambientalmente sensíveis para separá-los e purificá-los.

Estes 17 elementos – incluindo neodímio, praseodímio, disprósio, térbio, ítrio, entre outros – possuem propriedades magnéticas, catalíticas e óticas únicas. São insubstituíveis em muitas aplicações modernas, como:

  • Ímãs Permanentes de Alto Desempenho: Usados em motores de veículos elétricos, turbinas eólicas, discos rígidos de computadores, auscultadores, altifalantes e sistemas de mísseis.

  • Catalisadores: Em refinarias de petróleo e em sistemas de controlo de poluição automóvel.

  • Baterias: Como as de níquel-hidreto metálico, usadas em alguns veículos híbridos.

  • Eletrónica de Consumo: Em ecrãs de smartphones, televisores, iluminação LED e fibras óticas.

  • Aplicações Militares e de Defesa: Em sistemas de guiamento, lasers, radares e sonares.

A transição energética, em particular, é altamente dependente das terras raras. As turbinas eólicas e os motores de veículos elétricos, por exemplo, requerem grandes quantidades de ímãs permanentes à base de neodímio e disprósio para serem eficientes.

O Domínio da China na Cadeia de Valor das Terras Raras

Durante décadas, a China construiu metodicamente uma posição dominante em praticamente todas as fases da cadeia de valor das terras raras. Embora outros países, como EUA, Austrália e Mianmar, possuam reservas significativas e alguma produção mineira, a China destaca-se de forma avassaladora no processamento e refinação.

  • Produção Mineira: Embora a sua quota na produção mineira global tenha diminuído ligeiramente nos últimos anos (de mais de 80-90% na década de 2010 para cerca de 70% em 2023, devido ao aumento da produção noutros locais), a China ainda é o maior produtor mundial. Descobertas recentes de novas reservas no país, como os 4,96 milhões de toneladas anunciados em setembro de 2024, reforçam essa posição.

  • Processamento e Refinação: É aqui que o domínio da China é mais crítico. Estima-se que o país controle cerca de 90% da capacidade global de processamento de óxidos de terras raras em metais e ligas de alta pureza. Este estrangulamento tecnológico é resultado de décadas de investimento estatal, custos de produção mais baixos e, historicamente, regulamentações ambientais menos rigorosas.

  • Controlo de Exportações: A China já demonstrou no passado a sua capacidade e vontade de usar o seu domínio nas terras raras como uma ferramenta de política externa e comercial. Em 2010, por exemplo, restringiu as exportações para o Japão durante uma disputa territorial, causando um choque nos preços globais e um alerta para a dependência mundial. Mais recentemente, em 2024 e 2025, a China tem sinalizado e implementado controlos mais apertados sobre a exportação de certas tecnologias de processamento de terras raras e de produtos específicos, aumentando a tensão comercial, especialmente com os EUA.

Implicações Geopolíticas do “Superpoder Mineral” Chinês

O controlo chinês sobre um recurso tão vital para a economia moderna e para a segurança nacional de outros países tem vastas implicações geopolíticas:

  • Dependência Estratégica: Muitos países desenvolvidos, incluindo os EUA e nações europeias, encontram-se numa posição de dependência significativa da China para o fornecimento de terras raras processadas, essenciais para as suas indústrias de defesa, tecnologia e energia verde.

  • Vulnerabilidade das Cadeias de Suprimento: Qualquer interrupção no fornecimento chinês, seja por decisão política, tensões comerciais ou problemas internos, pode ter um impacto paralisante em indústrias críticas a nível mundial.

  • Vantagem Competitiva para a China: Ao controlar o fornecimento e o preço das terras raras, a China pode favorecer as suas próprias indústrias na produção de tecnologias avançadas, como veículos elétricos e equipamentos de energias renováveis, fortalecendo a sua competitividade global.

  • “Arma” Geopolítica: As terras raras tornaram-se uma ferramenta na crescente rivalidade entre a China e os EUA. Pequim pode usar o seu domínio como moeda de troca em negociações comerciais ou como forma de retaliar contra políticas americanas que considere hostis (por exemplo, restrições à exportação de semicondutores para a China).

Esforços Globais para Diversificar e Reduzir a Dependência

A crescente consciencialização sobre os riscos associados ao domínio da China nas terras raras impulsionou uma série de iniciativas por parte de outros países para diversificar as suas fontes de fornecimento e fortalecer as suas próprias cadeias de valor:

  • Investimento em Novas Minas e Projetos de Extração: Países como Austrália, EUA, Canadá e, potencialmente, o Brasil (que possui reservas significativas, embora pouco exploradas e processadas) estão a tentar aumentar a sua produção mineira. No entanto, desenvolver novas minas é um processo longo, caro e com desafios ambientais.

  • Desenvolvimento de Capacidades de Processamento: O maior desafio é quebrar o monopólio chinês no processamento. Os EUA e outros estão a investir em novas refinarias e tecnologias de separação, mas enfrentam a concorrência dos custos chineses e a necessidade de superar barreiras tecnológicas e ambientais.

  • Investigação de Substitutos e Reciclagem: Há um esforço contínuo para encontrar materiais alternativos que possam substituir as terras raras em algumas aplicações ou reduzir a quantidade necessária. A reciclagem de produtos em fim de vida que contêm terras raras (como eletrónicos e baterias) também é vista como uma fonte secundária importante, embora a sua viabilidade económica e tecnológica ainda precise de ser aprimorada.

  • Cooperação Internacional: Alianças estratégicas entre países consumidores para partilhar recursos, investir conjuntamente em projetos e coordenar políticas estão a ser formadas para criar cadeias de suprimento mais resilientes e menos dependentes de uma única fonte.

Conclusão: A Batalha Silenciosa Pelos Elementos do Futuro

O domínio da China na produção e processamento de terras raras é um dos pilares da sua estratégia de longo prazo para alcançar a liderança tecnológica global e influenciar a transição energética mundial. Enquanto Pequim vê estes elementos como ativos estratégicos cruciais, o resto do mundo acorda para a necessidade urgente de diversificar as suas fontes e desenvolver as suas próprias capacidades.

A batalha silenciosa pelo controlo das terras raras não é apenas sobre minerais; é sobre o futuro da inovação, da segurança energética e do equilíbrio de poder no século XXI. A forma como esta disputa evoluir nos próximos anos moldará profundamente a paisagem tecnológica e geopolítica global. Para países como o Brasil, detentores de reservas, surge a oportunidade e o desafio de se posicionarem estrategicamente nesta nova ordem mineral.

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7 comments

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